Estudo de Caso: Neurofibromatose Tipo 1 com Escoliose Distrófica Grave, Neurofibromas Plexiformes e Repercussão Funcional Respiratória

Versão revisada em nível técnico-científico.

Abstract

Relata-se o caso de um paciente masculino de 27 anos portador de neurofibromatose tipo 1 (NF1), apresentando escoliose distrófica severa, hemivértebra, múltiplos neurofibromas plexiformes e nodulares, e ectasia dural. Os exames de ressonância magnética evidenciaram deformidades vertebrais acentuadas, rigidez angular e remodelamento das paredes posteriores. A espirometria demonstrou distúrbio ventilatório obstrutivo moderado com redução da capacidade vital, indicando comprometimento funcional. O caso evidencia a interação entre predisposição genética, deformidade estrutural, carga tumoral e deterioração neuromuscular progressiva, reforçando a necessidade de abordagem multidisciplinar e a complexidade das contraindicações cirúrgicas na NF1 avançada.

Introdução

A neurofibromatose tipo 1 (NF1) é uma genopatia autossômica dominante causada por mutações no gene NF1, responsável pela codificação da neurofibromina, proteína reguladora negativa da via RAS/MAPK [1]. Sua deficiência resulta em proliferação celular descontrolada e predisposição tumoral, especialmente nos nervos periféricos, manifestando-se por neurofibromas plexiformes e nodulares. Alterações musculoesqueléticas incluem displasias ósseas e escoliose distrófica [2].

Conforme descrito por Tsirikos et al. [2], a escoliose distrófica na NF1 caracteriza-se por curva curta, rotação vertebral acentuada, rigidez e progressão rápida, frequentemente acompanhadas de cifose e ectasia dural. Tais anomalias impõem alto risco neurológico e instabilidade estrutural, limitando abordagens cirúrgicas. Neurofibromas plexiformes infiltrativos agravam o remodelamento ósseo e podem levar à compressão neural ou transformação maligna [3].

Discussão

Os exames de imagem revelaram escoliose torácica grave (>80° estimado), com deformidade rotacional e fusão parcial dos corpos vertebrais, compatíveis com morfologia distrófica [2]. Observou-se ectasia dural lombossacra com remodelamento posterior em L5–S2 e múltiplos neurofibromas plexiformes e nodulares em trajetos paravertebrais e lombossacrais, compatíveis com infiltração tumoral difusa.

Tais achados justificam os déficits reflexos e a hiporreflexia unilateral descritos, denotando compressão radicular mista (mecânica e infiltrativa). O risco de transformação para tumor maligno da bainha do nervo periférico (MPNST), embora reduzido, exige vigilância periódica por RM e PET/CT, conforme diretrizes ERN-GENTURIS [3].

A espirometria indicou distúrbio ventilatório obstrutivo moderado e redução da capacidade vital, sem resposta a broncodilatador, refletindo restrição torácica pela deformidade e potencial comprometimento funcional pela infiltração tumoral. Prada et al. [6] ressaltam o papel da RM de corpo inteiro (WBMRI) para acompanhamento da carga tumoral e avaliação longitudinal da função estrutural.

O manejo deve priorizar terapias não invasivas e multidisciplinares. O uso de inibidores de MEK, como o selumetinibe, demonstrou redução volumétrica de neurofibromas inoperáveis e melhora funcional [4].

Conclusão

O caso ilustra a complexidade fisiopatológica da NF1 com escoliose distrófica grave, hemivértebra, ectasia dural e múltiplos neurofibromas plexiformes. A repercussão respiratória e motora observada confirma a gravidade e o prognóstico reservado. A RM, especialmente com protocolos 3D T2 isotrópicos, DWI e pós-contraste, permanece essencial para diagnóstico e monitoramento. Diretrizes atuais recomendam vigilância seriada por RM segmentar e WBMRI em intervalos de 2 a 3 anos [3].

Esquema da via RAS/MAPK e síndromes associadas à rasopatia
Figura 1. Representação esquemática da via RAS/MAPK e deficiência de neurofibromina na NF1.
Imagem de RM sagital T2 da coluna mostrando ectasia dural toracolombar
Figura 2. RM lombossacra (T2 sagital) demonstrando ectasia dural e deformidade posterior (imagem ilustrativa).

Referências

  1. FERNER, R. E. et al. Guidelines for the diagnosis and management of individuals with NF1. Journal of Medical Genetics, v. 44, n. 2, p. 81-88, 2007. Link
  2. TSIRIKOS, A. I. Scoliosis in neurofibromatosis type 1: an update. Journal of Bone and Joint Surgery (Br), v. 94-B, n. 11, p. 1458–1466, 2012. Link
  3. TORRENTE, I.; EVANS, D. G.; LEGIUS, E. et al. ERN GENTURIS tumour surveillance guidelines for individuals with neurofibromatosis type 1. EClinicalMedicine, v. 56, p. 101809, 2023. Link
  4. GROSS, A. M. et al. Selumetinib in Children with Neurofibromatosis Type 1 and Inoperable Plexiform Neurofibromas. The New England Journal of Medicine, v. 382, p. 1430–1442, 2020. Link
  5. UUSITALO, E. et al. Cancer prevalence and mortality in neurofibromatosis type 1. JAMA Network Open, v. 4, n. 3, e210945, 2021. Link
  6. PRADA, C. E. et al. The Use of Whole-Body MRI in NF1. Pediatric Radiology, v. 49, n. 8, p. 1052–1062, 2019. Link