Critérios de Diagnóstico Clínico para Neurofibromatose Tipo 1 (NF1)
Abstract#
A neurofibromatose tipo 1 (NF1) é uma desordem genética autossômica dominante, de elevada penetrância e expressividade variável, resultante de mutações no gene NF1, localizado no cromossomo 17q11.2, o qual codifica a neurofibromina, proteína reguladora negativa da via RAS/MAPK.
O diagnóstico permanece essencialmente clínico, fundamentado em critérios estabelecidos pelo National Institutes of Health (NIH) em 1987 e ainda amplamente utilizados, apesar de avanços na caracterização molecular.
Este artigo revisa tais critérios, correlacionando-os com manifestações fenotípicas, riscos associados e a necessidade de vigilância multidisciplinar.
Introdução#
A NF1 é uma das síndromes genéticas mais prevalentes, com incidência estimada em 1:2.500 a 1:3.000 nascidos vivos.
Seu fenótipo decorre da perda funcional da neurofibromina, proteína supressora tumoral que atua como regulador negativo da via de sinalização RAS/MAPK. A desregulação desta via promove proliferação celular descontrolada, predispondo ao surgimento de múltiplos tumores benignos e, em alguns casos, malignos.
Do ponto de vista clínico, a NF1 é caracterizada por manifestações cutâneas, oculares, ósseas, neurológicas e tumorais. Apesar dos avanços no diagnóstico genético, os critérios clínicos do NIH permanecem como padrão-ouro para a identificação precoce, sobretudo em contextos de saúde pública e em locais onde o acesso a testes moleculares é limitado.
Critérios diagnósticos segundo o NIH (1987)#
O diagnóstico clínico de NF1 requer a presença de pelo menos dois dos seguintes critérios:
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Seis ou mais manchas café com leite
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5 mm em indivíduos pré-púberes.
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15 mm em indivíduos pós-púberes.
Essas máculas resultam da hiperatividade melanocítica e constituem o marcador cutâneo inicial mais comum.
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Dois ou mais neurofibromas de qualquer tipo ou um neurofibroma plexiforme
- Os neurofibromas cutâneos são tumores benignos de bainha nervosa.
- Os plexiformes, infiltrativos e de difícil ressecção, estão associados a maior risco de transformação maligna em tumores malignos da bainha do nervo periférico (MPNSTs).
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Efelides em regiões axilares ou inguinais, geralmente surgindo na infância.
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Glioma óptico, tumor glial que acomete nervos ópticos, frequentemente diagnosticado na infância e potencialmente associado a perda visual.
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Dois ou mais nódulos de Lisch, hamartomas da íris assintomáticos, mas altamente específicos para NF1.
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Lesão óssea característica, como displasia do esfenoide, pseudoartrose de ossos longos (tíbia) ou deformidades distróficas associadas à escoliose.
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Parente de primeiro grau com diagnóstico confirmado de NF1, refletindo o padrão hereditário autossômico dominante.
Discussão#
Embora os critérios do NIH permitam diagnóstico confiável em grande parte dos casos, algumas limitações devem ser consideradas:
- Idade de manifestação: nem todos os sinais são evidentes precocemente, dificultando diagnóstico em crianças pequenas.
- Variabilidade fenotípica: indivíduos da mesma família podem apresentar espectros clínicos divergentes.
- Risco tumoral: até 10% dos pacientes desenvolvem MPNST, neoplasia agressiva que demanda vigilância rigorosa com ressonância magnética seriada e, em casos suspeitos, PET/CT.
- Acometimento sistêmico: displasias ósseas, complicações vasculares (como estenose de artérias renais e hipertensão) e distúrbios cognitivos ampliam a complexidade do manejo.
Avanços na biologia molecular, com testes de sequenciamento do gene NF1, permitem confirmar mutações germinativas em mais de 95% dos casos, sendo úteis em diagnósticos diferenciais, como a síndrome de Legius (mutações no SPRED1).
Conclusão#
Os critérios clínicos do NIH continuam fundamentais para o diagnóstico da NF1, sobretudo em contextos de recursos limitados.
A incorporação de exames de imagem, testes genéticos e acompanhamento multidisciplinar é essencial para uma abordagem abrangente. O reconhecimento precoce dos sinais, aliado a vigilância rigorosa, possibilita diagnóstico confiável e intervenção em complicações potencialmente graves, incluindo transformação maligna e comprometimentos neurológicos ou ósseos.